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Mês: Junho 2025

Odiada, Orgulhosa e Marginal

Posted on 2025/06/02 - 2025/06/02 by marginaltrans

Somos o resto, o resto descartado de um sistema e uma sociedade movidos pela exploração.
O capitalismo precisa de nós, precisa dos homens cis em seu papel de gênero másculo e forte para o trabalho braçal e fabril tanto quanto precisa da mulher cis para reproduzir e fazer a manutenção domiciliar enquanto o marido está fora sendo explorado.
O capitalismo precisa de cada um dos casais cishetero e monogâmicos, alguém precisa reproduzir a forma de família que é eficiente para o capitalismo.
O capitalismo precisa até que nós, o resto, continue na marginalidade. Eu com certeza viveria menos pior se fosse explorada e assalariada, mas não cabe a mim isso, a posição social que me foi dada me joga pra todas formas de trabalho precarizado e marginalizado: a prostituição, o semaforismo, o mangueio, o tráfico e tudo de ruim que tu possa imaginar.
Nossa posição no capitalismo é a de desemprego. É muito útil para os patrões que existamos no exército industrial da reserva: Como mulheres nós que somos trans não reproduzimos, isso nos tira da possibilidade de assimilação pelo capital uma vez que a nossa utilidade no capitalismo é essa.
Por isso estamos aqui, pois a nossa forma de ser útil ao capital é sendo a parcela desempregada que mantém as condições de trabalho, somos a moeda de troca e chantagem para que os assalariados não deixem seus empregos de carga horária alta e salário baixo, o operário sempre tem alguém para o substituir – se tu não quer trabalhar muito e ganhar uma mixaria, alguém com certeza vai querer, o que significa que nessa fração só quem sofre é o assalariado, o teu patrão já te substituiu por alguém da reserva.
A grandessíssima maioria de todas minas trans (e pessoas transfemininas em geral) que conheço (e olha que eu conheço bastante) vive numa amálgama de subemprego, prostituição, fome e crime, e na maioria das vezes nem é só uma dessas alternativas por vez, é todas ao mesmo tempo: A gente de dia tenta garimpar algum idoso pra dar dinheiro em nossas contas no privacy ou no only fans, de tarde a gente pode se aventurar tentando fazer uma comida ou arte pra fazer o mangueio e de noite, se a gente tiver muita sorte, conseguimos um freela em algum bar que finge se importar conosco. Talvez, ainda, se tu tiver com muita fome e não tenha conseguido um freela, tu não vai sair de noite pra lavar pratos ou servir clientes, tu vai pra casa de um estranho que pagou pelo direito de ter o teu corpo por algum bocado de horas.
E quanto à nossa resposta? Nós somos anticapitalistas, anti-família e anti-estado. Vivemos na pele uma dinâmica que muitas vezes é negligenciada pela boa e velha homenzada comunista e anarquista: a reprodução da exploração do capitalismo em forma de família e matrimônio.
Os operários tem razão em reivindicar o orgulho operário, é demonstrar resiliência e força contra a engrenagem que te crucificou, é seguir firme apesar da condição específica que o capitalismo te explora.
Da mesma forma, eu reivindico o orgulho marginal. Assim como os operários, também somos parte da engrenagem do sistema – o capitalismo lucra com a tua exploração operária, com a exploração doméstica e reprodutiva dos corpos com útero e, acima de tudo, também lucra com o nivelamento por baixo das condições de vida através da nossa desgraça.

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